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Mostrando postagens de 2014

[Atravessaste meu dia]

[eu media as rugas]

eu media as rugas contava o tempo da respiração e ela abria a bocarra como um peixe à beira da morte e ela tinha seus sessenta e três e eu alguns tantos outros além murmurando coisas que eram-lhe, já, incompreensíveis

Duas luas e uma fogueira

imagem: Editorial "Suicidal Flowers" com Gabrielle Beringui (Thais Monteiro) Seus olhos não eram grandes, como poderíamos imaginar após esta descrição: tinham uma força improvável, extraordinária, apenas proposta para aquelas massas flutuantes pela galáxia. Quem ousasse traçar alguma rota perto demais, ou passasse distraído invariavelmente estaria preso à sua órbita. Não eram grandes, eram imensos! Os dois pontos fixos brilhavam em sua face, e pareciam sugar-lhe a energia de todo o resto. Era frágil. Os braços finíssimos, o corpo igualmente delgado, os seios mínimos suscitavam a impressão de compor somente um anexo do que existia acima, contudo, não menos belo. E como era belo!, feito cauda de cometa. Ainda sobre o rosto, um sorriso costumava brotar. De quando em quando surgia semelhante a uma ferida – uma metáfora que eu lera uma vez em algum livro e lhe cabia bem. Dava mesmo a sensação de ferir-lhe muitas vezes e habitualmente queimava quem ficasse em sua direçã

[lou.cu.ra. s. f. 1. ferrete, óleo]

imagem: com Chanelle Patou (Matthieu Soudet) lou.cu.ra. s. f. 1. ferrete, óleo pedra. 2. ave-langue-sorriso. 3. a gengiva dura. 4. fulgor que apenas conserva o hálito aquecido das orações 5. tua voz calma diluída sobre um tempo queimante

[Por que me negas a última centelha?!]

imagem: (Rimel Neffati) Por que me negas a última centelha?! Por que me cegas, e cegado não posso senão aceitar tua mão, tua carne impalpável à minha boca, tua cria apodrecida, que nasce  e renasce de teu ventre obscuro?!

52 Hz

imagem: Mirage [Modelo_Camille Kasia] (Alexandra Sophie) Esperei que de teus olhos de terra suscitassem pássaros com seus peitos dóceis a alimentarem-mar durante o inverno Esperei que destas pérolas geradas nos confins do sono a aurora despertasse ao abrir de tuas conchas

Sobre poemas e outros vazios

imagem: Sitges, Espanha - Série "Sobre Estar Só" (Diogo Nunes) neste vazio entre essas paredes assépticas ou com outras 200 cabeças realmente isso não importa muito uma poesia que havia deletado... na verdade eu deletei muitas poesias e sempre as rememoro e há beleza nelas e aí você lembra que homens nunca choram e isso com certeza vale pra qualquer pessoa seja homem, mulher, n-b "pessoas fortes nunca choram" e tenta bancar o durão ou durona ou mas aquela infinita vontade de um abraço te acerta mas você precisa manter a pose mas seu cérebro não quer saber disso e você, na verdade, não quer saber disso e aí você lembra que Homens nunca choram era assim que começava o poema e nada é assim tão fácil e escrevemos e comemos e transamos e trabalhamos de mil e outras formas porque nada nos basta e a gente sempre procura algum lugar para se manter de pé mas seu cérebro não quer saber diss

Medusa

imagem: Medusa - 1597 (Michelangelo Merisi Caravaggio) Voraz movediça, molusco, Medusa! De tuas vísceras exalas teu canto Uivo de sereia, inaudível espanto A iscar a vítima que tua língua abusa Deliras, ruminas o cedro, o carvalho O algoz, ante ácido, iminente escarro Na ânsia histérica de forjares no barro Através da ponta que desfere o ralho Fruto bastardo, imagem de tua miséria Desafortunado, substância grave, funérea Transportará consigo a insígnia na testa Tempero aziúme, pútrido da última festa Deus-bolor!, fétido, vômito de teu corte Brado eterno de uma vida para a morte

[Nada. Fotografa. Fotografa o Nada. Mira a lente à]

imagem: From darkest skies (lostknightkg) Nada. Fotografa. Fotografa o Nada. Mira a lente à  fonte e o Caos se manifesta. Ali, outrora nutrida inicia-se a agonia da carne em busca de sua própria  extensão: corpo alheio, decepado. A memória ressentida  dissemina a dor, mas não diz o nome. Acelera o  sangue. Lábios balbuciam. A língua não sabe a quem...

[Amontoadas, mil lentes]

imagem: Mosca (Alejandro Bonilla) Amontoadas, mil lentes debatem-se. Celebração a última dança. O cheiro alucina. Matéria desfaz-se líquida: o mel das moscas